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Dark and White - 4º Capítulo

4º Capítulo

 
As pessoas caiam à sua frente, gemendo e gritando para que parasse, que os deixasse, implorando que ele não lhes tocasse. Mas nenhum desses pedidos parecia travá-lo. Tocava nas pessoas à sua frente, absorvendo a fraca luz  dos seus corpos, que percorria até às suas mãos, extinguindo-se.
Shara observava tudo aquilo, como uma espectadora que ninguém via, passando por ela como se fosse um mero espírito, uma mera alma sem corpo. Via as pessoas caírem no chão, inanimadas e sem vida à medida que aquele ser lhes tocava, absorvendo as suas energias e poderes, sem qualquer piedade.
Era uma imagem que há muito que via. Mas quanto mais via, mais nítido a imagem se apresentava.
Focou a sua atenção naquela existência, naquela pessoa alta, de negros cabelos lisos que lhe chegavam ao queixo, esvoaçando conforme se baixava. Shara deu um passo na sua direcção, tentando perceber o porquê de tudo aquilo, a verdadeira razão por detrás de todo aquele horror. Chegou mais perto do rapaz que rapidamente se virou na sua direcção, encarando-a amargamente. Shara ficou paralisada a olhar para aqueles olhos amarelos, que pareciam transmitir em pensamentos uma fúria demoníaca.
Não conseguiu visualizar bem as suas feições, por estarem um pouco enevoadas, mas a fúria que aqueles olhos transmitiam era arrepiante. Ficou a olhar para eles, sentindo uma onda de medo e de terror a absorvê-la, impedindo-a de se mover. Ele via-a. Como era possível ele conseguir vê-la? Aquilo nunca tinha acontecido.
O rapaz levantou-se e encaminhou-se na sua direcção, andando com uma pose rígida e direita como se passeasse numa rua normal, sem corpos, sangue ou destruição, andando normalmente na sua direcção. Sem desviar os seus olhos dos dela, ergueu a mão direita encoberta com uma luva sem dedos preta, na sua direcção.
Tentou recuar, mas era como lutar contra cimento invisível que a imobilizava facilmente. Sentiu um forte aroma a envolvê-la, um aroma de uma Mandrágora. Como se a flor a envolvesse, rodeando-a e protegendo-a.
Fechou os olhos, enquanto aquele aroma protector a abandonava dando lugar ao calor dos seus cobertores, prendendo-a contra a grande cama. Abriu os olhos e sentou-se direita na cama, tentando acalmar a respiração acelerada.
- Outra vez este sonho – dizia pelo meio da respiração – Não! Este era diferente! Ele via-me?!
Passara uma semana desde que chegara aquele mundo e, desde o dia que estivera perto da estátua das antigas guardiãs pela primeira vez, que tinha aquele sonho. Um pesadelo à qual era obrigada a assistir, vendo as pessoas caírem mortas no chão, enquanto aquele rapaz absorvia os seus poderes e as suas forças vitais. Todas as noites, o sonho era o mesmo. O lugar mudava, mas o terror avassalador permanecia.
 Levantou-se da cama e abriu as cortinas, deixando a luz clara da manhã abraçá-la, reconfortando-a enquanto aclareava o jardim e as flores ao pé da estátua, iluminando as pequenas cutículas das pétalas das flores, deixadas pela névoa agora dissolvida.
De seguida dirigiu-se para a casa de banho, tomando um longo, demorado e relaxado banho. Deixou os cabelos soltos, vestiu umas calças de ganga e uma t-shirt preta com o desenho de um Tweety a abraçar um coração no centro da mesma, com alguns corações que percorriam desde os ombros até às costas. Calçou uns ténis pretos com faixas cinzentas de lado e, sentou-se na ponta da cama ligando a televisão encostada à parede aos pés da mesma.
Permaneceu durante muito tempo ali sentada em cima da grande cama coberta por cobertores laranja, decorado com flores brancas. Olhou para o relógio e viu que já eram 10horas.”Hora de dar uma volta”, pensou. Desligou a televisão e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si, permanecendo um pouco no curto corredor observando a porta do seu amigo, donde provinha a música de piano “Woods of Chaos”, descendo as escadas de seguida.
Chegou à sala de convívio e encontrou-a vazia. Afinal, era fim-de-semana e todos gostam de dormir até tarde. Pelos menos a grande maioria gostava de o fazer.
Sentou-se no sofá bege situado à frente de uma mesa de vidro onde repousava um pequeno livro, deixado certamente por alguém que havia estado demasiado cansado para se lembrar que o tinha deixado ali.
Começou a folhear o livro de capa prateada, ilustrada com desenhos de animais selvagens a decorara as páginas, reconhecendo de imediato de quem seria o dito livro. As páginas para além de estarem ilustradas com desenhos, também tinham pequenos apontamentos, escritos com uma caligrafia típica de criança, falando daquilo que gostava ou não, em cada animal. Shara parou numa página que tinha como ilustração a pantera. Ao contrário das restante páginas, esta não tinha grandes apontamentos, possuindo apenas uma pequena frase dizendo “Tenho saudades tuas” escrita numa letra miudinha e tremida, por cima da imagem de uma pantera pequena. Ficou a olhar para a pequena frase e para a imagem que se seguia, colocando a mão esquerda aberta e com a palma virada para baixo em cima das mesmas, fechando os olhos e concentrando-se.
Começou por ver a escuridão produzida pelos seus olhos fechados, obrigando-a a concentrar-se ainda mais, franzindo a sua testa um pouco e cerrando mais os olhos, enquanto murmurava em pensamento um “por favor não me falhes agora, deixa-me ver, por favor”. Aos poucos o negro foi-se afastando, dando lugar à luz e cores que pouco a pouco se foram tornando mais nítidas, permitindo-a ver.
Jack estava sentado no chão, encostado à pequena cama de madeira, envolvida em cobertores brancos e azuis com imagens de pequenos flocos de neve nas dobras das pontas. Estava de joelhos no chão, debruçado sobre o seu pequeno livro de animais, escrevendo com uma esferográfica azul que sustinha na mão. Aquilo aparentava ter sido à um ano atrás, pois Jack parecia ter 6 anos, vestido com uns calções brancos de dobras azuis claras do mesmo tom que a blusa com que trajava. Folheando o seu livrinho, escrevendo aqui e ali, até chegar à página da pantera. Assim que a viu Jack murmurou um “maninha”, pegando no livro encostando-o a si com força, como se abraçasse a pequena pantera, deixando cair pequenas lágrimas dos seus olhos. Pousou-o no chão e escreveu “Tenho saudades tuas”
- Tenho saudades tuas maninha – dizia por entre o choro, enquanto as lágrimas escorriam pelas suas bochechas rosadas.
A imagem afastou-se, dando lugar ao vazio e escuro que dissiparam quando abriu os olhos novamente.
- Obrigada por mão me falhares – disse para si mesma, como se agradecesse aos seus poderes.
Nesta ultima semana, havia começado a praticar essa capacidade nos seus colegas, seguindo as indicações da professora Angelique durante as aulas de poderes secundários. Tinham-lhe dito que aquilo era uma capacidade que provinha seus poderes elementares, que para variar ainda não sabia qual era,  e não propriamente do seu poder secundário. A professora explicara-lhe que ela conseguia ver o passado com a mão esquerda e o futuro com a direita. Como eram capacidades pouco usuais, a professora não tinha grande conhecimento sobre elas. Por isso Shara tinha que ir praticando-as. Havia alturas em que os seus podres funcionavam demasiado bem e outras em que não funcionavam de todo, que era quando ela queria que funcionassem. “És mesmo do contra”, tinha-lhe dito Michel, e ele não sabia o quão isso era verdade.
Para sua felicidade o seu poder havia funcionado, deixando-a ver o que havia sucedido com Jack através do seu pequeno livro de animais, vendo através deste a altura em que o seu pequeno amigo tinha escrito aquela frase.
Pobrezinho! Estar separado da irmã deve ser-lhe muito doloroso” pensava triste.
- E é! Apesar dela estar mais perto do que parece – respondeu uma voz por detrás do sofá, enquanto se aproximava.
- Tu não devias ainda estar a dormir? Tu é que disseste que as raposas dormiam até tarde no fim-de-semana – dizia divertida recordando a discussão que ele tivera com Flora e Aqua, onde competiam para ver quem dormia mais tempo. Fora uma discussão parva, que segundo Michel e Erik, era a forma de Hiro impedi-las de organizarem os seus planos maléficos ligados às lojas e compras, logo pela manhã. Uma forma bizarra, a seu ver.
- Sabes, neste momento estão a vir-me uma serie de potenciais respostas para te dar. Mas nenhuma me parece adequada para o momento – dizia sentando-se ao seu lado, retirando o livro de suas mãos, observando a página.
- Que queres dizer como facto dela estar mais perto do que parece?
- Hmm, como é que explico isto? Ela é irmã gémea do Jack e, tal como ele pertence mais a este mundo do que propriamente ao outro, mas...
- Então isso quer dizer, que também cá está! – dizia interrompendo-o, como se tivesse feito uma grande descoberta.
- Sim, mas é uma situação complicada. A miúda apesar de ter as mesmas capacidades que ele, em vez de ter uma energia espiritual branca, tem-na preta.
- Isso que dizer que ela é um ser da noite… E depois, isso não significa que não se possam ver! – reclamava baixinho.
- Pois mas como sabes, nesta escola há uma grande distância entre os seres do dia e as criaturas da noite. E isso acaba por afectar os gémeos.
- Tadinhos. Primeiro são retirados dos pais, quando mais precisam deles. E agora são afastados um do outro - dizia Shara triste. O silêncio instalou-se entre os dois amigos, interrompido apenas pelo barulho da televisão que Hiro havia ligado entretanto.
- Hiro deixas me usar o teu poder para cozinhar?
- Por acaso tenho cara de fogão? – disse admirado.
- Aha… por acaso é de forno – disse mostrando uma carinha de anjo.
- Mas para que é que tu queres cozinhar?
- Quero fazer um bolo de chocolate para o Jack – dizia levantando-se do sofá e encaminhando-se à torre dos delegados.
- Não tinhas dito que eras um desastre nas tarefas e casa? – perguntava seguindo-a.
- Sim, mas cozinhar não é uma tarefa de casa. É um divertimento – respondeu batendo à porta de Erik, que a abriu rapidamente demonstrando aquele sorriso carinhoso, que ela tão bem conhecia.– Bom dia Erik. Onde tens, aqueles livros de receitas? – perguntou entrando no quarto do amigo, parando em frente à prateleira decorada com diversos livros.
- Shara, achas que tenho cara de biblioteca? – perguntava rindo.
- Estás melhor que eu! Eu tenho cara de forno – contrapôs Hiro passando por ele e entrando também.
- Como sabias que eu estava acordado?
- É porque acordas sempre cedo, já no fim-de-semana passado foi o mesmo. E porque ouvi a tua musica quando ia a descer. Uma boa escolha – dizia procurando um dos livros pretendidos, encontrando um na segunda prateleira e outro na terceira. Esticou-se, pôs-se em bicos de pés, tentando alcançar, primeiro, o livro pousado na segunda preterira.
- Toma lá pequena – disse Hiro entregando-lhe o livro, evitando rir.
- Eu não sou pequena! Estou em fase de crescimento e por isso ainda não atingi os 1,80 metros como vocês – dizia fechando a boca e alargando as bochechas, de modo a ficarem inchadas com ar. “Isto é se chegar a atingi-lo” pensava.
- Pois, boa sorte com isso. Duvido um pouco que o consigas, Pequena – disse Hiro por entre gargalhadas ao ver a expressão meio irritada na cara de Shara.
- A culpa não é minha. E porque é que resolvem colocar as coisas nos sítios que só as torres lá chegam? E as pessoas de 1,60m, não têm direito? – Perguntava fazendo beicinho, enquanto olhava para o outro livro na prateleira seguinte. Sentiu duas mãos agarrarem-na pela cintura, elevando-a de forma a ela poder alcançar o outro livro pretendido.
- Obrigada – agradeceu a Erik com o seu habitual sorriso de criança, sentindo as bochechas a corar.
Sentou-se no chão com as pernas cruzadas, abrindo o livro nas páginas respectivas, lendo a receita de chocolate branco e a de bolo de chocolate.
 “Ok, agora só falta saber… onde fazê-las”.
- Porque não perguntas! – disse Hiro observando os CD´s da prateleira.
- Porque não paras de ler a minha mente?
- Porque é divertido – respondeu acocorando-se à sua frente, olhando-a com uma expressão de divertimento nos olhos. Shara permaneceu imóvel a mirar aqueles olhos negros, concentrando-se na névoa branca e preta que invisivelmente moldavam a sua mente, como um escudo invisível para os olhos dos outros. Começou a ver o amigo franzir um pouco a testa e a semicerrar os olhos, concentrando-se ainda mais, fazendo-a dar um sorriso de vitória.
- Assim não vale – disse Hiro sentando-se, baixando as orelhas e cruzando os braços à sua frente, enquanto Shara dava risos de vitória dizendo um “nha nha nha nhaa nha”.
Erik olhava para os amigos à sua frente com um grande ponto de interrogação na testa. Sentado de frente para as costas da cadeira preta com rodas da secretária, apoiando a cabeça nos braços cruzados sobre o encosto da mesma.
- Não vale! Desliga-o. Tira essa coisa. Tira-o! – reclamava Hiro, fazendo birra, como uma criança de infantário, à qual haviam retirado o seu brinquedo favorito. Baixando mais as orelhas e começando a desenhar um pequeno beicinho nos lábios.
- O que se passa com vocês dois? – perguntava Erik farto de acumular pontos de interrogação.
- O Hiro está chateado por eu o ter impedido de me ouvir – tentava Shara dizer por entre a risada alegre e contagiante.
- Mas o que… hã?
- Esta rapariga bloqueou a sua mente. Eu não consigo ouvir nada do que ela está a pensar – reclamava Hiro.
- Quando é que aprendeste a fazer isso Shara. Eu consigo, e olha que já o tento há um bom par de anos – disse Erik admirado com a progressão da amiga.
- Estive a praticar durante o tempo em que vocês têm aula de poderes elementares. Li sobre isso no livro e pedi à professora Angelique que me explicasse o que devia fazer. Ela fê-lo e eu comecei a praticar, e voila, feito.
- Bem, sim senhora. Muitos parabéns Shara.
- Não a elogies! Isto é péssimo. E agora com quem vou brincar? Ela era a única novata aqui e por isso é que era divertido ouvir os seus pensamentos. Bem – Disse com um encolher de ombros, como que diz “que se há de fazer” – Agora vou ter de ouvir os teus, que neste momento, graças à madame, estão alterados – dizia sorrindo com um ar traquina para o amigo, que chegou a cadeira mais perto de Shara.
- Explicas-me como o fizeste? E rápido, por favor – pediu ao ouvido dela, aproveitando que Hiro aparentava estar distraído com a televisão.
- Claro que sim. É muito simples, só tens de focar a tua energia espiritual na tua mente. Tens de passar toda a energia que te envolve para a tua mente, moldando à sua volta.
- Só isso? E eu a pensar que era algo mais complicado, sou mesmo burro – dizia para si mesmo. Tentou fazer o que ela tinha dito, movendo a força interior para a sua mente que aos poucos a envolveu como uma barreira branca.
- Então tu também? Vocês não dão gozo nenhum! – Hiro levantou-se, fazendo beicinho e saio do quarto com pesadas passadas, fingindo ter ficado amuado.
- Oh… Lá se vai o meu forno – Dizia Shara vendo-o sair – E agora onde te vou cozinhar? – Perguntou para receita de bolo de chocolate, como se ela alguma vez lhe pudesse responder.
- Podias experimentar na cozinha.
- Podemos cozinhar na cozinha?
- Aha… sim. Sabes normalmente é lá que se costuma cozinhar
- E porque é que ninguém me disse que podíamos utilizar a cozinha do refeitório?
- Porque a visita guiada da Flora e da Aqua, é bastante explícita. E se eu te perguntar o que aprendeste com ela, tu respondes…
- Que a escola é um enorme castelo, e que é no reino da Terra e da Água que se compram as melhores peças de roupa e calçado – Disse com uma expressão de criança, que acabava de fazer uma traquinice qualquer.
- Sim, creio que aprendeste bem as suas “orientações”. Mas agora explica-me, porque é que queres fazer o bolo?
- Queria fazê-lo para alegrar o Jack. É que tive um flash do seu passado através do livro de animais, e viu-o muito triste por causa do afastamento entre ele e a irmã. E queria animá-lo – disse alegremente, levantando-se e desligando a televisão.
- Tu já consegues ver as coisas dessa forma? E através de objectos? – perguntou sério. Deixando escapar um tom de preocupação na voz.
- Mais ou menos, depende do humor dos meus poderes. Dependendo de se eles estão em dia Sim ou dia Não. E Sim, mesmo através de objectos consigo ver – Disse com um encolher os ombros.
- Isso significa que nem sempre consegues ver as coisas. Mas continuas a precisar de tocar nelas com a mão esquerda para as veres, certo?
- O passado, sim… Tendo em conta que não sabia como é que os meus flashs funcionavam e muito menos porque é que os tinha. Coisa que agora já sei e… - dizia num turbilhão de palavras, desabafando. - mas há algum problema? Pareces ter ficado preocupado – disse inquietada com a mudança repentina de atitude do amigo.
- Não, estava só a tentar perceber melhor o teu poder, e o quanto já o evoluíste. – respondeu com um sorriso nervoso, tentando disfarçar o seu desassossego.
- Ok, então vamos cozinhar – disse alegremente, pegando no pulso de Erik e puxando-o para fora do quarto, enquanto sustinha os livros na outra mão.
Erik ficou receoso por ela lhe ter tocado com a mão esquerda, temendo que ela pudesse ver algo do seu passado sem querer. Mas como a expressam dela não se havia alterado, concluiu que não vira nada e deixou deslizar a sua mão, fechando-a um pouco, agarrando a dela.
Percorreram o refeitório até à outra ponta esquerda, onde se situava a cozinha. Era uma cozinha normal, preenchida com móveis castanhos e equipamento de cozinha que se usa em casa, como máquinas de lavar louça, microondas, forno, fogão, frigorífico e congelador, devidamente organizados, ocupando o menor espaço possível. Colocou os livros abertos nas respectivas páginas e começaram a retirar a forma, taças para bater os ingredientes e os mesmos do frigorífico, que aparentava ter de tudo o que precisavam.
Colocaram os aventais brancos típicos de cozinha, que estavam pendurados atrás da porta e começaram a trabalhar.
- Não tiras a luva? – perguntou Shara olhando para a mão direita coberta com a luva sem dedos, que usava sempre.
- Não! É que eu não a posso tirar – respondeu escondendo a mão de baixo da mesa.
- Mas porquê? Não disseste que era por causa dos teus poderes de terra. Agora estás a cozinhar e não creio que o bolo fique bom, decorado com areia.
- Pois, mas eu prefiro não tirá-la. Sinto-me… mais seguro assim – continuo a deitar a farinha para o recipiente, pedindo para si mesmo que ela não fizesse mais perguntas sobre aquele assunto. Shara viu que aquilo incomodava-o e resolveu deixar o assunto por ali.

- Pronto agora é só esperar que ele coza – disse fechando a porta do forno com o bolo na forma, no seu interior.
- O que aconteceu aqui? – ouviram Aqua perguntar à entrada da cozinha, seguida por Flora e Hiro.
- Nada de especial. Estivemos apenas a cozinhar – disseram virando-se para os amigos, com cara de que fosse algo perfeitamente normal.
- Estiveram a cozinhar, ou…
- A fazer uma grande guerra de ingredientes? – perguntou Flora olhando para a farinha no chão, chocolate em pó por cima das bancadas, as cascas de ovos espalhadas pela mesa, e… um bocado de massa em cima da ventoinha que rodava por cima das suas cabeças.
Shara e Erik olharam para o estado em que a cozinha tinha ficado, perguntando-se quem tinha feito tal asneira, e rindo-se da situação.
- A culpa é dela – indicou Erik pondo as mãos no ar, como quem diz “eu não tive nada a ver com o assunto”.
- Não sou eu que tenho farinha nas orelhas – respondeu olhando para as orelhas de gato, que haviam passado de pretas para brancas. – E alem disso. É preciso duas pessoas para começar uma guerra de comida. E devo dizer que quem começou foste tu – Continuo a rir.
- Não se riam, isto está uma desgraça!
- Ah, não te preocupes com isso. Isto não é nada comparado com o que fazíamos no infantário. Lá até havia massa no tecto e tudo.
Os amigos apontaram para a ventoinha no tecto, na qual repousava um pedaço de massa numa das espátulas.
- Oh. Quando é que aquilo foi lá parar? – disse pensativa e divertida ao mesmo tempo.
- Eu não sei. Só sei que é melhor arrumarmos isto tudo, antes que chegue a hora do pequeno-almoço – dizia Hiro começando a arrumar a sujidade das bancadas.
- E vocês é melhor irem lavar a cara e a cabeça. Ainda vos confundem com alguma alma penada – ralhava Flora, como se fosse mãe deles.
- Está bem, mas tomem atenção ao bolo – Disse Shara saindo em direcção ao dormitório.
Lavou a cabeça e sentou-se na cadeira de secretária enquanto a enxugava, observando um livro em cima da mesa, que ia jurara que não estava lá antes. Pegou nele e observou-o prudentemente. Não o conhecia, mas tinha vaga sensação de já o ter visto em algum lado, sem se recordar ao certo onde.
Era um livro pesado e aparentemente antigo, de capa castanha e folhas meio amareladas, decalcado com duas asas na capa. Estando uma preta invertida do lado esquerdo e a branca virada para cima, no lado direito, lembrando o símbolo da escola. Emolduravam o título centrado, escrito com letras pretas, dizendo Poderes de luz e Escuridão em relevo. Percorreu as asas como indicador esquerdo, tentando ver alguma coisa, para conseguir perceber como ele havia ali parado, mas nada aconteceu.
Abriu-o e leu os nomes das suas autoras, vendo “Lumina e Ciemny” assinado com uma bonita caligrafia antiga, no canto inferior direito. Virou a página e leu a introdução, escrita igualmente com a bonita caligrafia:

Para a nova guardiã da luz e escuridão
O caminho que percorrerás será difícil e triste. No qual encontrarás diversos obstáculos, relacionados contigo, com os teus poderes e com aqueles que te rodeiam.
Neste livro encontrarás tudo relacionado com os poderes que possuis, como utilizá-los, concentrá-los, e compreende-los, mas a forma como os utilizas dependerá de ti e somente de ti.
Com isto esperemos que compreendas aquilo que fizemos, que também o ajudes a compreender tudo o que aconteceu e que o libertes.
Boa sorte Shara

Ficou parada a olhar para o seu nome escrito na folha de papel, na qual possuía duas ramificações que iam desde do mesmo até ao topo da página, contendo na ponta um sol e uma lua. Colocou as duas mãos em cima da página, sem pensar ao certo no que estava a fazer, sentindo um gelo a apoderar-se da palma da sua mão direita e um calor arrevatador na sua mão esquerda.
Sentiu algo a percorrer as suas palmas, enrolando-se à volta das mãos até ficarem na parte de cima das mesmas. Retirou as mãos e viu que as ramificações do sol e da lua tinham desaparecido. Virou as palmas para cima, para verificar o que eram aquelas coisas quentes e frias, parecidas com trepadeiras, mas nada viu. Virou as mãos para cima e viu que continha um sol na mão esquerda e uma lua na direita, sentindo o calor do sol a arder na mão esquerda e o frio da lua a estalar na direita
Estava concentrada a olhar para as suas mãos quando Erik bateu à porta, desconcentrando-a dos seus pensamentos. Levantou-se e foi abri-la, permanecendo com uma expressão de confusão na face.
- Oi… o que foi? – perguntou preocupado ao ver a expressão dela.
- É que… eu… - tentou dizer olhando para as suas mãos, mas as marcas haviam desaparecido. Olhou para o livro em cima da secretária, agora fechado – Sonhei?! Pensava ter visto algo, mas aparentemente não foi nada.
- Mas estás bem?
- Sim – Disse com o seu habitual sorriso juvenil, tranquilizando-o – anda, o bolo já deve estar pronto.
Desceram até à sala de convívio, encontrando Michel e Jack a saírem da sua torre de dormitórios.
- Shara – gritou Jack animado, correndo para lhe abraçar com um grande sorriso no rosto.
- Bom dia amiguinho. Dormiste bem?
- Sim e tu?
- Ah, também – forçou um sorriso que passou despercebido a Jack que a olhava com os seus grandes olhos azuis de criança animada. – Anda fiz-te uma coisa especial, que tenho a certeza de que vais adorar.
Caminhavam pelo corredor ouvindo Jack que falava alegremente do seu sonho, agarrando na mão esquerda dela que o ouvia com entusiasmo. Um dos alunos passou por eles, batendo de sem querer no ombro de Shara, tocando ao de leve na sua mão direita.
- Descul… - começou por dizer, sendo devastada com um visão bastante nítida, do miúdo a escorregar no chão molhado e a cair das escadas, batendo com a cabeça e derramando uma grande quantidade de sangue.
- Shara? – perguntou Erik ao vê-la sem reagir e sentindo uma grande intranquilidade, enquanto esta olhava para o miúdo que se aproximava das escadas.
Largou a mão de Jack e correu em direcção dele, puxando-o para trás no momento em que ia escorregando, caindo ambos de costas no chão.
- Qual é a tua? – dizia o rapaz irritado, levantando-se e descendo as escadas observando os cotovelos molhados da blusa.
Sentiu alguém bater nas suas costas. Virou-se para trás e viu Jack de joelhos no chão, o qual também tinha escorregado quando caminhava na sua direcção.
- O chão está molhado?!
- Pois está. Devem tê-lo limpo, por causa da farinha – dizia ainda com a voz a tremer-lhe, devido àquilo que tinha visto na visão. Voltou a olhar para as escadas, observando o local onde tinha visto o miúdo cair.
- Estás bem? – perguntou Erik colocando-lhe a mão no ombro, sentindo o seu medo e tentando acalmá-la.
- Vou ficar.
- O que é que viste? – perguntou Erik preocupado, apercebendo-se de que ela não se conseguia acalmar como deve de ser.
- Vi… vi o miúdo cair das escadas, bater com a cabeça e deitar uma…sangue. Foi… foi… assustador – respondeu olhando para o chão, enquanto os outros dois caminhavam normalmente para o refeitório.
- Tem calma. Tenta esquecer isso agora. Ele está bem, por isso não te preocupes mais – tranquilizava colocando-lhe os cabelos atrás da orelha, acariciando-a.
Shara começou a sentir-se mais calma e olhou-o sorrindo amavelmente.
- Aqui estão vocês. Estávamos a ver que se tinha perdido.
Hiro colocou-lhe uma mão nas costas molhadas e Shara sentiu-se a ser percorrida por uma espécie de chama, secando-a.
- Prontos agora já estão sequinhos. E a Flora já colocou o bolo em cima da mesa, mas o miúdo ainda não o viu. Vai lá!
- Obrigada.
- Que aconteceu? – perguntou Hiro a Erik, que se manteve à entrada observando-a.
- Ela começou a desenvolver mais as suas capacidades de visão, conseguiu ver o futuro de um miúdo a cair das escadas e a aleijar-se seriamente. Salvou-o, mas ficou assustada com o que viu.
- Já consegue ver as coisas assim tão nitidamente. Mas só cá está há uma semana, como é possível? – dizia lendo a mente da Shara, vendo aquilo que ela tinha visto e que continuava a ocupar a sua mente.
- Não te esqueças de que ela já sabia destas visões. Só não as compreendia ou dominava, como agora está a começar a fazer. Por isso é normal que ela desenvolva os seus poderes muito mais rapidamente que nós – respondeu juntando-se aos amigos.

2 comentários:

Evanuzia Ferreira de Fousa disse...

eu amei ler o esses cap. gostaria de saber quando vai sair o 5 cap. beijos vanu

Deia disse...

Olá Vanu. sê muito bem vinda ao blog :D
ainda bem que gostaste e agradeço teres comentado.
tentarei por o próximo capítulo em breve.

Jocas e mais uma vez, obrigada e bem vinda :D

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