Bem, eu diverti-me a escrevê-lo e a expressar os sentimentos da rapariga.
Espero que gostem :D
Decidi explorar mais uma vez o vazio, com a esperança de que algo de diferente tivesse aparecido, mas não, continuava tudo escuro, sem cor, negro.
Fui para a janela sentir a brisa a tocar no meu corpo, imaginando as cores que com ela vinham.
Foi nesse momento que entrou meu irmão.
- Bom dia Sara que fazes à janela?
- Mas tu podes vê-lo mana, tu lembras-te de como ele era, não mudou nada, por isso ainda o podes ver!
- Sempre foste um crido André. No entanto a realidade não é assim, eu não posso ver nada a não ser esta escuridão, no entanto posso lembrar-me de como ele era.
Por aquilo de que me lembro o meu irmão era um jovem animado, alegre e muito vivo, baixinho, magrinho, de cabelos castanhos e de olhos azuis com salpicos de verde. Mas como disse, isso é o que me lembro dele, agora passado seis anos ele já estava um homem feito, alto, forte, de cabelo rapado, mas no entanto com a mesma alegria de infância. Pelo menos era o que as pessoas diziam sempre que ele passava.
Fiquei a falar um bocado com o André e pouco tempo depois de ele ter saído, entraram as minha irmãs mais novas.
- Sara... queres ouvir o que aprendemos ontem na aula de música – disseram em coro.
Ouvi-as inspirarem fundo e a combinarem quem começava primeiro, e depois começaram a tocar.
As minhas pequeninas eram a Carla e a Catarina, as gémeas lá da casa. Das quais as únicas recordações que tinha era de serem duas bebés de 1 ano. Uma tinha o cabelo castanho claro e a outra era loira, ambas de olhos azuis, pequeninas de perninhas arqueadas e de bracinhos fininhos. Lembro-me de as ver sempre com uma chupeta na boca e roquinhas nas mãos, gatinhando aqui e ali. Mas o tempo não para, e elas foram crescendo, agora já andavam e iam para a escola de mochila às costas. Tinam cabelos compridos amarrados em duas tranças, presas com uma fitas castanhas e amarelas, segundo dizia o meu pai.
- Muito bem pequeninas, foi muito bom! - disse passado um bocado e pós ter ouvido as duas a tocar.
- Achas mesmo mana?
- Gostei pequeninas, foi uma musica muito alegre.
- Mana que cores te fêz lembrar a nossa musica?
- Sim, que cores?
- Bem... - fiquei admirada com a pergunta e após ter reflectido um pouco respondi - o amarelo, o verde e o branco!
- E porque é que te fez lembrar essas cores?
- Bem o amarelo porque me faz lembrar o sol, o verde porque é a cor da natureza que cresce animadamente, e o branco porque é a cor da paz e da tranquilidade tal como a musica.
- Lembraste-te mesmo dessas cores?
- Sim!
- Que bom mana.
- Estás a ver, tu ainda consegues ver a cores, apenas vê-las de uma outra forma.
- Muito obrigada pequeninas, mas tal como disse ao André eu não as posso ver, apenas as posso recordar.
- Mas mana... - disseram desanimadas.
- Lamento meninas mas essa é a realidade.
Pouco depois entrou o meu pai.
- Desculpem meninas, mas preciso de falar com a Sara a sós por uns momentos. André levas as pequeninas lá para for a se-fás-favor. - ouvi-o pedir ao meu irmão, que seguramente vinha logo atrás dele.
- Sim pai!
O meu pai era um senhor alto de olhos castanhos com uns salpicos de verde, como o André. Era um senhor forte, mas no entanto com uma voz doce e confortante. Tinha o cabelo castanho, mas penso que com o passar destes 6 anos, o seu cabelo tenha ficado com alguns fios cinzentos e brancos.
- Que me querias dizer pai?
- Sara sei que já passaram 7 anos desde que a tua mãe faleceu e que por isso esses teu mundo escuro já dura há 6 anos. E acho que chegou a hora de voltares a ver as cores.
- Que queres dizer com isso pai?
- O que quero dizer... é que finalmente chegou a carta a dizer de que já podes ser operada. A tua espera que já dura há 6 anos terminou.
- Queres dizer que já não estou em lista de espera? - Não consegui conter a minha alegria - já posso ser finalmente operada?
- Sim, já podes dizer adeus a esse mundo escuro e dizer olá à luz.
Passaram-se 3 semanas desde que o meu pai me disse que ia ser finalmente operada. Já estava à algum tempo no hospital e a operação tinha corrido muito bem, segundo o doutor. Estava finalmente pronta para retirar as ligaduras.
A porta do quarto abriu-se e ouvi os passos do médico e do meu pai.
- Muito bem... estamos prontos para tirar essas ligaduras?
- Mais do que pronta, estou ansiosa!
Senti o médico a retirar-me as ligaduras muito devagarinho, parecendo demorar uma eternidade.
- Ora bem, já podes abrir os olhos!
Abri-os devagarinho e senti a escuridão a desaparecer do meu ser e dar lugar à luz. Foi nesse momento que vi umas manchas que se iam ficando mais nítidas e de repente vi-os! O médico, baixinho, com bigode arredondado e de bata branca e ao seu lado estava o meu pai, não estava tão diferente, como eu esperava que estivesse. Levantei-me subitamente e fui-me ver ao espelho que estava num canto da sala. Assim que vi o meu reflexo, paralisei.
- Que se passa Sara?- perguntou o meu pai preocupado.
- Pai sou eu esta rapariga de cabelos loiros e encaracolados? Sou eu esta pessoa alta, magrinha de olhos verdes?
- Sim Sara essa pessoa és tu. Já passaram 6 anos e agora está ma pequena mulherzinha. E... Sara? passa-se algo de errado? - perguntou o meu pai quando me viu a chorar.
- Não pai, de maneira alguma. Só estou contente, admirada e feliz de poder voltar a ver as cores, as coisas, tudo – respondi feliz, enxergando as lágrimas.
Nesse momento olhei para a sala do hospital, era uma sala pequena, com uma cama num canto, um espelho no outro e uma janela no centro. Corri para a janela e senti o sol a acariciar-me a face.
- Pai como é bom poder ver o sol. O sol pai, esta esfera amarela e laranja que ilumina o nosso mundo. O sol, a luz que faz com que a escuridão desapareça. - disse sorrindo, sentindo as lágrimas a saírem-me novamente dos olhos. Senti um calor enorme na face, como se aqueles raios de luz me estivessem a acariciar.
- Mãe – olhei para o céu, como se estivesse a olhar para a minha mãe - Já passaram 7 anos desde que tiveste aquele acidente e foi essa tristeza de te ter perdido que me fez caminhar para a escuridão. Mas agora a luz puxou-me de volta para as cores. Essa luz foste tu mãe, não te preocupes eu sei que agora vai ficar tudo bem e sei também que nunca me irás abandonar, porque tu és a luz que me guia. Muito obrigada mamã.
Nessa altura entraram os meus irmãos e as lágrimas de alegria continuaram a cair-me pela cara, mas agora não era só eu que chorava o André, o meu pai e as minha pequeninas também choravam.
Estavam todos como eu tinha imaginado o André estava um homem e as minha pequeninas eram duas crianças alegres e bonitas. Agarrei-os e dei um forte abraço, um abraço que pude não só sentir como também ver com os meus próprios olhos, que permaneciam molhados das lágrimas.
E foi assim que vivi o dia a seguir ao fim do mundo. O mundo negro que conhecia, porque a vida continua por mais dura que seja, a única coisa que temos de fazer à vivê-la.